sábado, 23 de agosto de 2008

Arte: Audrey Kawasaki

Coruja Jezebel

Natan, amigo e companheiro de diversas bebedeiras. Rapaz jovem que se foi cedo, muito cedo, não sei pra onde... Quem sabe para o céu ou mesmo o inferno?
Coruja Jezebel: noturno e crepuscular ser que passou a me acompanhar nas noites de solidão, a vigiar meus passos vacilantes e a pousar em meu ombro nas frias manhãs paulistanas, sempre antes de partir para os confins do inimaginável. Ave estrigiformes de rara beleza; murutucu, agourenta, às vezes mascote de Atena, outras, personificação de Lilith, ou apenas mero e pequeno demônio alado? Seu olhar indiscreto e seu irritante piado, passaram a me perseguir loucamente, noite após noite. Prenúncio de má sorte? Quem sabe, talvez pelo feminiu que a nomeei, enganando-me por completo, pois numa noite de trevas, após minha bebedeira noturna, sorrateiramente ela pousou em meu ombro esquerdo, deixando-me deveras irritado, e antes que eu lhe desse um forte e certeiro golpe com minha garrafa de uísque escocês, fixou seus vitrificados olhos nos cansados meus e, sem mais nem menos, como num pesadelo escrito pelo próprio Poe, vociferou: "Não se sinta só; para o céu não fui convidado e do inferno escapei. Agora estou do seu lado, velho companheiro, até o dia, em breve, que sua morte testemunharei..."

Ademir Pascale - ademir@cranik.com
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