Carta da semana
O QUE É ESSA TAL LIBERDADE CHAMADA INTERNET?
"Às vezes divago em alguns sites de jornalismo e de cara percebo que, embora os colunistas tentam redigir textos sobre assuntos diferenciados, acabam "todos" abordando um mesmo assunto. Com certeza, não é mero acaso. Provavelmente, o editor disse para seus colunistas: "Quero que abordem a morte da bezerra em seus artigos". De pronto, o colunista atende, mesmo se o tema dele for política, literatura ou cinema, ele acabará mencionando "a morte da bezerra" e, isso fará com que suas idéias fujam do contexto do artigo, pois ele não estará livre para redigir, saberá que terá de inserir e fazer um rodeio sobre a bendita morte da bezerra.
Não gosto da idéia de tratar colunistas como máquinas de redigir, o que acontece em muitos jornais, sites e revistas de nosso país, a manipulação de idéias, geralmente surgem de uma única pessoa que comanda o seu exército de articulistas. Muitos blogueiros, são renomados jornalistas, outros, mesmo sem um diploma, são excelentes formadores de opiniões e, muitos, tiveram seus textos negados por grandes sites, jornais ou revistas, talvez por escancararem suas idéias para o mundo e por não citarem a morte da bezerra em seus artigos.
Para mim, um dos maiores articulistas da atualidade é o dramaturgo Gerald Thomas, e não é brasileiro, talvez por isso exista tanta liberdade e pluralidade em seus excelentes artigos - claro que existem ótimos e conhecidos formadores de opiniões "brasileiros", como: Arnaldo Jabor, Carlos Brickmann, Gilberto Dimenstein, José Simão (Macaco Simão), Leila Cordeiro etc., e muitos, ainda desconhecidos da massa brasileira -, talvez pela liberdade na informação, o Gerald seja polêmico e tão criticado. Infelizmente, ainda existem aqueles que pensam que suas idéias são as que devem prevalecer, como alguns autores de auto-ajuda, donos da verdade, ou mesmo, membros de algumas religiões, que acreditam que a sua religião, é a verdadeira e única e as outras de meros adoradores do diabo, intitulados como “pagãos”. Oras, nem sequer sabem que “pagão” vem do latim “paganus”, ou seja, aquele que reside no pagus, no campo. Devemos respeitar essa pluralidade, pois os seres pensantes são diferentes uns dos outros, englobando anáforas: “estudou em uma escola diferente, teve professores diferentes, conviveu com pessoas diferentes, nasceram em regiões diferentes, são de classes sociais diferentes etc.”
Não sei, mas sempre fico matutando quando relembro da frase do iluminado Shidarta Gautama, o Buda: “Afinal, o que é a verdade?”. Em outras palavras, a verdade não deve ser única, tudo depende do contexto e da época e, infelizmente, quem prega a verdade nos últimos tempos, não é Deus, são os políticos.
Relendo meu artigo, é notório que o Brasil não está tão ruim assim, se comparado com as terras de Hugo Chávez e com os países asiáticos de legiões de workaholics, onde o direito é apenas trabalhar e não ter liberdade na informação. Acreditam que na China os sites, blogs, salas de bate papo e até os murais online são diariamente monitorados? Muitos foram fechados, principalmente os que abordavam comentários considerados ofensivos para a política deles, ou seja, "Liberdade na informação", nem pensar..., aliás, "liberdade" é uma palavra censurada.
Vocês se lembram quando “alguém” teve a péssima idéia de que todos os usuários brasileiros deveriam inserir seus dados para acessar a internet? O nome, endereço, RG, etc., deveriam ser inseridos para o usuário entrar na grande rede. Talvez tenha sido uma tentativa de bloquearem os formadores de opiniões, mas graças a Deus, essa idéia foi para o brejo.
A internet é totalmente diferente do dinossauro chamado “mídia impressa” e, não gosto da idéia de redigir um texto pensando na quantidade de caracteres. Para os impressos tudo bem, o tamanho do artigo deve ser adequado e os caracteres contados, mas para a internet não, afinal, qual a diferença de cinco mil caracteres digitados para cinco mil e duzentos? Se existir uma quantidade máxima de caracteres para a internet, não existira liberdade no artigo redigido, pois se o tema e o artigo forem bons, quanto mais caracteres digitados, melhor.
Só sei que nada sei, afinal, o que é a verdade?"
Ademir Pascale - Folha Online
Leia também no Blog do Gerald Thomas: http://geraldthomas.blog.uol.com.br/
E também na coluna do jornalista Dimenstein http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/cjornalista/index.shtml
E também na coluna do jornalista Dimenstein http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/cjornalista/index.shtml
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